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23 de Abril de 2024

Ensino religioso nas escolas públicas é questionado em ADI

há 14 anos

Com o objetivo de dar a interpretação conforme a Constituição Federal sobre o ensino religioso nas escolas públicas, a Procuradoria-Geral da República (PGR) propôs no Supremo Tribunal Federal a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4439, com pedido liminar. O ensino religioso está previsto no artigo 33, parágrafos 1º e , da Lei de Diretrizes e Bases da Educacao Nacional (LBD - Lei nº 9.394/96), e no artigo 11 do Anexo do Decreto nº 7.107/2010.

A procuradora-geral em exercício, Deborah Duprat, argumenta na ADI que a Constituição Federal (CF) estabelece o princípio de laicidade do Estado e a previsão de oferta de ensino religioso, de matrícula facultativa, pelas escolas públicas de ensino fundamental, no horário normal de aula. Desse modo, ela afirma que “em face da unicidade da Constituição, não é viável a adoção de uma perspectiva que, em nome da laicidade do Estado, negue qualquer possibilidade de ensino de religião nas escolas públicas”.

Pela relevância, complexidade e natureza interdisciplinar do tema, a procuradora-geral requer, de acordo com o artigo , parágrafo 1º da Lei nº 9.868/99, a realização de audiência pública no Supremo.

A tese defendida pela PGR é a de que a compatibilização do ensino religioso nas escolas públicos e o estado laico corresponde à oferta de um conteúdo programático em que ocorra a exposição das doutrinas, das práticas, da história e de dimensões sociais das diferentes religiões, incluindo as posições não religiosas, “sem qualquer tomada de partido por parte dos educadores”.

Para Duprat, esse modelo de ensino protegeria “o Estado de influências provenientes do campo religioso, impedindo todo tipo de confusão entre o poder secular e democrático, de que estão investidas as autoridades públicas, e qualquer confissão religiosa”. A procuradora-geral argumenta que a laicidade do Estado brasileiro impõe a neutralidade em relação às distintas opções religiosas presentes na sociedade, de modo a vedar o favorecimento ou embaraço de qualquer crença ou grupo de crenças.

Deborah Duprat sustenta, ainda, que o princípio do estado laico está relacionado aos princípios constitucionais da igualdade e da liberdade de religião. Ao expor que “há fortes razões para se velar atentamente pelo respeito ao princípio da laicidade estatal no ensino público fundamental”, a procuradora-geral defende que uma das finalidades essenciais do ensino público, previsto no artigo 205 da CF, é a formação de pessoas autônomas, com capacidade de reflexão crítica.

No pedido liminar, a procuradora-geral pede a suspensão da eficácia de qualquer interpretação do dispositivo questionado da LDB que autorize a prática do ensino religioso em escolas públicas que se paute pelo modelo não-confessional, bem como se permita a admissão de professores da disciplina como representantes de quaisquer confissões religiosas. Requer, também, a suspensão da eficácia do Decreto nº 7.107/2010 que autorize a prática do ensino religioso em escolas públicas que não se paute pelo modelo não-confessional.

No mérito, Deborah Duprat requer a interpretação conforme a Constituição do artigo 33, parágrafos 1º e da LBD, para assentar que o ensino religioso em escolas públicas deve ser de natureza não-confessional.

Dispositivos questionados

Lei de Diretrizes e Bases da Educacao Nacional

"Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. (Redação dada pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997)

§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores.

§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso."

Decreto nº 7.107/2010: promulga o Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e a Santa Sé relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil, firmado na Cidade do Vaticano, em 13 de novembro de 2008.

Artigo 11 - A República Federativa do Brasil, em observância ao direito de liberdade religiosa, da diversidade cultural e da pluralidade confessional do País, respeita a importância do ensino religioso em vista da formação integral da pessoa.

§ 1º - O ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a Constituição e as outras leis vigentes, sem qualquer forma de discriminação.

Processos relacionados
ADI 4439


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17 Comentários

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Sim, não se deve ensinar o ensino religioso nas escolas, é melhor e mais vantajoso fazer presídios. Depois quando eles estiverem cheios aí pode entrar lá Pastores, Missionários, Evangelistas para pregar os princípios bíblicos que Deus nos deixou.
Será que não seria mais fácil ensinar os preceitos morais,éticos e bíblicos que estão na bíblia para as crianças? Exemplo: não matar, não roubar, amor e respeito ao próximo, não cobiçar aquilo que não é teu, honrar teu pai e tua mãe, entre outros.
Pelo visto essa procuradora-geral em exercício, Deborah Duprat nunca leu a bíblia e também nunca deve ter tido ao menos o interesse de descobrir o que esta escrito lá dentro. continuar lendo

Caso uma lei dessa for aprovada meus netos não irão assistir e conheço muitos jovens que não ficaram para assistir. continuar lendo

Concordo com você Diogo. Com tantas coisas para se preocupar no nosso país e gente querendo acabar com algo tão inofensivo que é o Ensino Religioso nas escolas... Algo que não prejudica em nada nossas crianças, muito pelo contrário... continuar lendo

Mas o que uma coisa tem a ver com outra? Não é necessário lecionar ensino religioso para transmitir princípios éticos comuns à sociedade. A Bíblia deve ser lida em casa, no âmbito privado, ou na igreja ou templo. Escola pública precisa manter neutralidade. Precisa ler a Bíblia para saber que matar ou roubar é errado? continuar lendo

No atual estado das coisas a única religião tolerada é o marxismo. Na União Soviética não era diferente. continuar lendo

Bem interessante, mas falta um mecanismo para garantir que o ensino seria pluralista. É bastante comum professores fundamentalistas "puxarem a sardinha" e imporem a sua própria crença nas aulas. A meu ver, é melhor não ter ensino religioso do que ter de forma tendenciosa. continuar lendo

Emerson Prado também concordo as escolas tem que ensinar o aluno a ser Homem correto com boa indole ser tudo que o Diogo de Luca disse acima. continuar lendo

Sem dúvidas, lembram os colegas, deixem a religião de lado, continuem ensinando marxismo/leninismo e façamos mais presídios. Tomara que sejam presídios para abrigar perpetuamente esses marxistas que se encontram no poder e seus sócios que, por vezes fazem até oposição de "mentirinha", é claro. continuar lendo