Busca sem resultado
jusbrasil.com.br
19 de Abril de 2024

Carta do ministro-presidente à revista Época

há 10 anos

Leia a íntegra da carta encaminhada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, à revista Época.

Carta à revista Época

Sr. Diretor de Redação,

A matéria Não serei candidato a presidente divulgada na edição nº 823 dessa revista traz em si um grave desvio da ética jornalística. Refiro-me a artifícios e subterfúgios utilizados pelo repórter, que solicitou à Secretaria de Comunicação Social do Supremo Tribunal Federal para ser recebido por mim apenas para cumprimentos e apresentação. Recebi-o por pouco mais de dez minutos e com ele nao conversei nada além de trivialidades, já que o objetivo estabelecido, de comum acordo, não era a concessão de uma entrevista. Era uma visita de cunho institucional do Diretor da Sucursal de Brasília da Revista Época. Fora o condenável método de abordagem, o texto é repleto de erros factuais, construções imaginárias e preconceituosas, além de sérias acusações contra a minha pessoa.

A matéria é quase toda construída em torno de um crasso erro factual. O texto afirma que conheci o ministro Celso de Mello na década de 90, e que este último teria escrito o prefácio do meu livro "Ação Afirmativa e princípio Constitucional da Igualdade". Conheci o ministro Celso de Mello em 2003, ano em que ingressei no STF. Não é dele o prefácio da obra que publiquei em 2001, mas sim do já falecido professor de direito internacional Celso Duvivier de Albuquerque Melo, que de fato conheci nos anos 90 e foi meu colega no Departamento de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Mais grave, porém, é a acusação de que teria manipulado uma votação, impedindo deliberadamente que um ministro do STF se manifestasse. O objetivo seria submeter o ministro a pressões da "mídia" e de "populares". Isso não é verdade. Ofensiva para qualquer cidadão, a afirmação ganha contornos ainda mais graves quando associada ao Chefe do Poder Judiciário. Portanto, antes de publicar informação dessa natureza, o repórter tinha a obrigação de tentar ouvir-me sobre o assunto, o que pouparia a revista de publicar informação incorreta sobre minha atuação à frente da Corte.

No campo pessoal, as inverdades narradas na matéria são ainda mais ofensivas e revelam total desconhecimento sobre a minha biografia. Minha mãe nunca foi faxineira. Ela sempre trabalhou no lar, tendo se dedicado especialmente ao cuidado e à educação dos filhos. O texto, que me classifica como taciturno, áspero, grosseiro, não apresenta fundamentos para essas afirmações que, além de deselegantes, refletem apenas a visão distorcida e preconceituosa do repórter. O autor da matéria não apresenta elementos que sustentem os adjetivos gratuitos que utiliza.

Também desrespeitosa é a menção aos meus problemas de saúde. Ao afirmar que a dor causou angústia e raiva, o jornalista traçou um perfil psicológico sem apresentar os elementos que lhe permitiram avaliar o impacto de um problema de saúde em uma pessoa com a qual ele nunca havia sequer conversado.

Outra falha do texto é a referência à teoria do "domínio do fato". Em nenhum momento a teoria foi evocada por mim para justificar a condenação dos réus no julgamento da Ação Penal 470. Basta uma rápida leitura do meu voto para verificar esse fato.

Finalmente, não tenho definição com relação ao momento de minha saída do Supremo e de minha aposentadoria. Muito menos está definido o que farei depois dessa data, embora a matéria tenha afirmado sem que o jornalista tenha sequer tentado entrevistar-me sobre o tema que irei dedicar-me ao combate ao racismo.

Triste exemplo de jornalismo especulativo e de má-fé.

Joaquim Barbosa

Presidente do Supremo Tribunal Federal

  • Publicações30562
  • Seguidores629152
Detalhes da publicação
  • Tipo do documentoNotícia
  • Visualizações696
De onde vêm as informações do Jusbrasil?
Este conteúdo foi produzido e/ou disponibilizado por pessoas da Comunidade, que são responsáveis pelas respectivas opiniões. O Jusbrasil realiza a moderação do conteúdo de nossa Comunidade. Mesmo assim, caso entenda que o conteúdo deste artigo viole as Regras de Publicação, clique na opção "reportar" que o nosso time irá avaliar o relato e tomar as medidas cabíveis, se necessário. Conheça nossos Termos de uso e Regras de Publicação.
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/carta-do-ministro-presidente-a-revista-epoca/114507417

41 Comentários

Faça um comentário construtivo para esse documento.

Não use muitas letras maiúsculas, isso denota "GRITAR" ;)

A lucidez , clareza e extrema educação deste senhor cativa. Em um país carente de pessoas públicas com caráter, os pronunciamentos deste senhor reacende um lampejo de esperança em um cidadão que assistiu e viveu a história deste país nos últimos 40 anos. continuar lendo

tá certo;
mas tem gente que nao vê desta forma, como este Eu"gênio" ai acima. continuar lendo

"O texto, que me classifica como taciturno, áspero, grosseiro, não apresenta fundamentos para essas afirmações que, além de deselegantes, refletem apenas a visão distorcida e preconceituosa do repórter. O autor da matéria não apresenta elementos que sustentem os adjetivos gratuitos que utiliza."

Desculpe ao eminente Ministro, porém boa parcela da população assistindo seus votos e corriqueiras discussões com colegas, chegará ao mesmo entendimento. Áspero, grosso, deselegante e mal educado. continuar lendo

Quem lhe deu o direito de interpretar a opinião de "boa parcela da população"? Seria alguém chamado Preconceito?

Como disse Allbert Eintein, "é mais fácil desintegrar o átomo do que acabar com o preconceito". continuar lendo

Discordo. Não é aspero, não é grosseiro, nao é deselegante. Se voce bem viu os julgamentos, ele Joaquim Barbosa, Ministro e chefe, estava lidando com defensores declarados dos mensaleiros. E com esta turma tem que tratar como eles entendem e agem. Ou voce nao viu ou nao quiz ver. continuar lendo

Sr Eugenio (genio?) A resposta que dei acima é para o Sr.
DISCORDO dos seus comentarios continuar lendo

Como devem ser tratados "ladrões do dinheiro público" ? devem ser tratados de "sua excelência" ? Penso até que o Min.Joaquim Barbosa foi educado demais com essa gente que ROUBA o dinheiro da Saúde, da Educação e da Segurança para o seu próprio bolso. Algumas pessoas (com o o sr.Eugênio) preferem os ministros Tofoli,Lewandovski que são declaradamente a favor dos bandidos de colarinho branco, mas fazer o que, preferência não se discute, honestidade sim, e Joaquim Barbosa pelo menos a mim, passa essa certesa. continuar lendo

Você fez uma pesquisa de opinião ou leu alguma realmente feita como deve ser feita uma pesquisa?
Você conhece pessoalmente o ministro?
Acho que, assim como o repórter, você está preenchendo o vácuo da falta de informação com afirmações daqueles contrariados com toda esta questão em cima de petistas históricos, ou você é um desses contrariados. continuar lendo

Podia ter ficado quieto!!!!!!!!!! Siga o ditado chinês:- falar é prata, calar é ouro continuar lendo

Assino em baixo os comentários de Edison, Levino e outros que discordam da LEVIANDADE, senão, IRRESPONSABILIDADE estatística do Sr. Eugênio.
Com certeza é mais um petista que que não apresenta elementos que sustentem sua opinião.
Seria digno de dó, não fosse corroborar uma quadrilha que está assaltando o país. Livre da formação de quadrilhas pelos votos manipulados dos Ministros petistas. continuar lendo

Não sei de 'boa parcela da população', mas eu, ao assistir algumas sessões de julgamento do STF, achei o Ministro Joaquim Barbosa bastante rude, tanto no trato com seus pares (a quem deveria dispensar o respeito que espera ter de volta), quanto no trato com advogados.
Essa opinião pessoal de minha pessoa não tem nada a ver com "defender bandidos", como fazem parecer os defensores da dignidade do Min. Barbosa, sempre que apontam suas características negativas. Esquecem-se que, apesar de ele ter sido personagem crucial num dos julgamentos mais aclamados do Brasil, o senhor Ministro é humano, e portanto passível de falhas (e como pessoa pública que é, essas falhas vem à tona).
Destaco, para evidenciar o porquê de achar o Ministro Joaquim Barbosa grosseiro, o debate em que ele se envolveu com o Ministro Luis Roberto Barroso, quando da leitura do voto deste no julgamento dos famigerados Embargos Infringentes que salvaram os criminosos da condenação em formação de quadrilha. Como operador do direito, discordo da visão distorcida dessa maioria de Ministros que entenderam não haver formação de quadrilha. Porém, não penso que isso dê ao Ministro Presidente o direito de faltar com educação no trato com seus pares. Enquanto o Ministro Barroso lia seu voto, foi interrompido diversas vezes pelo presidente (o que já demonstra falta de educação, posto que este não gosta de ser interrompido - há quem goste?); além disso, o Ministro Joaquim Barbosa chegou a afirmar que quem discorda da sua opinião só pode estar agindo de má-fé.
Ora, assim é a democracia (felizmente para uns, infelizmente para outros). Sem entrar no mérito aqui sobre quem tem a opinião mais correta, penso que educação é o mínimo que se pode exigir do Presidente da Suprema Corte, e não acho que discordar dele seja ato de má-fé. continuar lendo

Pensa num cara sem moral é esse tal de “eugenio” ninguém te apoiou, faça contato com o site pedindo para tirar a sua opinião que você está totalmente sem moral. continuar lendo

Concordo com o texto do Eugenio. O Ministro Joaquim Barbosa é extremamente grosseiro em suas votações, não respeita o direito de seus colegas, interrompendo a todo momento e tentando induzir seus votos. Quem discorda, das duas uma: ou não assistiram as votações, ou não assistiram as vastas reportagens no período ou suas opiniões são maculadas por sentimento eleitoreiros. continuar lendo

É impressionante o que faz parte da mídia, para desacreditar o digno e honrado Ministro Joaquim Barbosa.
Foi o único Ministro do STF que teve a coragem de enfrentar a quadrilha do mensalão do PT, e coloca-lo atrás das grades.
Se o Ministro Joaquim Barbosa for candidato a Presidente da República, terá o meu voto e o da minha família. continuar lendo

O que me dá clareza e certeza nas atitudes deste ilustre cidadão e que ele não ficou em cima do muro, nem disse que não sabia de nada, mesmo que por vezes tenha sido um pouco truculento, quem não o é? ainda mais diante desta corja que hoje se acosta ao poder público, sem a minima condição de poder ler um documento e interpretá-lo, dizendo besteira em reuniões mundiais, tudo isso só vem por mostrar que aquele que realmente quer ver uma mudança neste pais, não a vera pelo lado, da justiças, ou dos dirigentes, pois, este ilustre cidadão tentou fazer seu papel da melhor forma possível, infelizmente ainda temos queles que ao invés de enxergar lutam em continuar com uma venda aos olhos. continuar lendo